Acerca de mim

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Sou uma folha retirada de um caderno amarelecido pelo tempo, mas com vontade de voar ao vento...

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Ao vento

Para ti!
Sou vida, chama perpétua,
Flor nascida no deserto,
Canto poético cintilante,
Pura lava como um eco.

Quero ter na minha alma
Um pedaço do teu céu,
Uma brisa permanente,
Calmaria no meu peito.

Não mais te direi os lamentos,
Os desejos reprimidos,
As sementes de um amor
Que germinou sem crescer.

Fica gravada esta vontade,
Esta fúria de bem-viver,
E no futuro perpetuar
Um profundo sentimento.





segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Palácio sem luz

Falo do imenso carinho que guardo no peito,
Sonhos-luz na distância de um toque,
Num tempo-magia sem hora nem destino,
Veludo carmim cobrindo o meu corpo.

Vivo na tua alma como um deserto,
Sem chama nem fogo mas desalento,
Poeta sem rosto que embala no tempo.





quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Ode marítima

Sozinho, no cais deserto, a esta manhã de Verão,
Olho pró lado da barra, olho pró Indefinido,
Olho e contenta-me ver,
Pequeno, negro e claro, um paquete entrando.
Vem muito longe, nítido, clássico à sua maneira.
Deixa no ar distante atrás de si a orla vã do seu fumo.
Vem entrando, e a manhã entra com ele, e no rio,
Aqui, acolá, acorda a vida marítima,
Erguem-se velas, avançam rebocadores,
Surgem barcos pequenos detrás dos navios que estão no porto.
Há uma vaga brisa.
Mas a minh’alma está com o que vejo menos.
Com o paquete que entra,
Porque ele está com a Distância, com a Manhã,
Com o sentido marítimo desta Hora,
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma náusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito.
Olho de longe o paquete, com uma grande independência de alma,
E dentro de mim um volante começa a girar, lentamente.
Os paquetes que entram de manhã na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e parte.
Trazem memórias de cais afastados e doutros momentos
Doutro modo da mesma humanidade noutros pontos.
Todo o atracar, todo o largar de navio,
É — sinto-o em mim como o meu sangue —
Inconscientemente simbólico, terrivelmente
Ameaçador de significações metafísicas
Que perturbam em mim quem eu fui…
Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza
Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas
Como a primeira janela onde a madrugada bate,
E me envolve com uma recordação duma outra pessoa
Que fosse misteriosamente minha.

(...)
Álvaro de Campos

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Autismo de excelência

A criatividade vem da "anima"

Les Uns et Les Autres

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O Amor

Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos
Como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma que o amor vos coroa,
Assim ele vos crucifica.
E da mesma forma que contribui para vosso crescimento,
Trabalha para vossa poda.
E da mesma forma que alcança vossa altura
E acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce até vossas raízes
E as sacode no seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma
No pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas, o amor operará em vós
Para que conheçais os segredos de vossos corações
E, com esse conhecimento,
Vos convertais no pão místico do banquete divino.
Todavia, se no vosso temor,
Procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez
E abandonásseis a eira do amor,
Para entrar num mundo sem estações,
Onde rireis, mas não todos os vossos risos,
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.
O amor nada dá senão de si próprio
E nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.
Porque o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga:
"Deus está no meu coração",
Mas que diga antes:
"Eu estou no coração de Deus".
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,
Pois o amor, se vos achar dignos,
Determinará ele próprio o vosso curso.
O amor não tem outro desejo
Senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos,
Sejam estes os vossos desejos:
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho
Que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado
E agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia
E meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado,
E nos lábios uma canção de bem-aventurança.

Gibran Khalil Gibran
Citações do livro o Profeta

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

It's cold inside!

Vagueando

Sou um espectro vagueando neste mundo,
Sinto palpitações de vida num sopro do universo,
Busco o átomo da satisfação eterna,
Deambulando, toco no prazer descontínuo.

Apetece-me saltar num pântano sem fundo,
Perder-me no enorme vácuo sideral.
Nada me sustém, apenas o vazio total,
Nítido desconforto da desmedida loucura.

Quem me acalenta neste frio lunar?
Quem me acode na tempestade medonha?
Podridão arrastada na multidão indiferente...

Haja luz neste caminho,
Um céu aberto em miríades de estrelas,
Um mar eterno a acolher-me no regaço.





















Namorados e a Magia da Noite  (1970) de Berco Udler
http://www.bercoudler.com.br/galeria.html

NAMORADOS NO MIRANTE *

Rio de Janeiro , 1962

Rio de Janeiro
Eles eram mais antigos que o silêncio
A perscrutar-se intimamente os sonhos
Tal como duas súbitas estátuas
Em que apenas o olhar restasse humano.
Qualquer toque, por certo, desfaria
Os seus corpos sem tempo em pura cinza.
Remontavam às origens - a realidade
Neles se fez, de substância, imagem.
Dela a face era fria, a que o desejo
Como um hictus, houvesse adormecido
Dele apenas restava o eterno grito
Da espécie - tudo mais tinha morrido.
Caíam lentamente na voragem
Como duas estrelas que gravitam
Juntas para, depois, num grande abraço
Rolarem pelo espaço e se perderem
Transformadas no magma incandescente
Que milénios mais tarde explode em amor
E da matéria reproduz o tempo
Nas galáxias da vida no infinito.

Eles eram mais antigos que o silêncio... 
Vinicius de Moraes
http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/namorados-no-mirante
* Feito para uma fotografia de Luís Carlos Barreto.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Magia

Um toque
               Um gesto
                             Um olhar
 Vivo no fogo de (a)mar.
 Cubro o teu rosto de beijos,
                                            Muitos,
                                                       quentes,
                                                                    doces.
O vento é testemunha,
O momento é mágico,
O mar pede-nos a sedução do presente.
Quem recusará este desejo tão forte?
Eu quero viver,
                        Viver intensamente,
                                                     (A)mar eternamente.