Para ti!
Sou vida, chama perpétua,
Flor nascida no deserto,
Canto poético cintilante,
Pura lava como um eco.
Quero ter na minha alma
Um pedaço do teu céu,
Uma brisa permanente,
Calmaria no meu peito.
Não mais te direi os lamentos,
Os desejos reprimidos,
As sementes de um amor
Que germinou sem crescer.
Fica gravada esta vontade,
Esta fúria de bem-viver,
E no futuro perpetuar
Um profundo sentimento.
Rio de Janeiro
Eles eram mais antigos que o silêncio
A perscrutar-se intimamente os sonhos
Tal como duas súbitas estátuas
Em que apenas o olhar restasse humano.
Qualquer toque, por certo, desfaria
Os seus corpos sem tempo em pura cinza.
Remontavam às origens - a realidade
Neles se fez, de substância, imagem.
Dela a face era fria, a que o desejo
Como um hictus, houvesse adormecido
Dele apenas restava o eterno grito
Da espécie - tudo mais tinha morrido.
Caíam lentamente na voragem
Como duas estrelas que gravitam
Juntas para, depois, num grande abraço
Rolarem pelo espaço e se perderem
Transformadas no magma incandescente
Que milénios mais tarde explode em amor
E da matéria reproduz o tempo
Nas galáxias da vida no infinito.
Eles eram mais antigos que o silêncio...