Sinto palpitações de vida num sopro do universo,
Busco o átomo da satisfação eterna,
Deambulando, toco no prazer descontínuo.
Apetece-me saltar num pântano sem fundo,
Perder-me no enorme vácuo sideral.
Nada me sustém, apenas o vazio total,
Nítido desconforto da desmedida loucura.
Quem me acalenta neste frio lunar?
Quem me acode na tempestade medonha?
Podridão arrastada na multidão indiferente...
Haja luz neste caminho,
Um céu aberto em miríades de estrelas,
Um mar eterno a acolher-me no regaço.
Namorados e a Magia da Noite (1970) de Berco Udler
http://www.bercoudler.com.br/galeria.html
NAMORADOS NO MIRANTE *
Rio de Janeiro , 1962
Rio de Janeiro
Eles eram mais antigos que o silêncio
A perscrutar-se intimamente os sonhos
Tal como duas súbitas estátuas
Em que apenas o olhar restasse humano.
Qualquer toque, por certo, desfaria
Os seus corpos sem tempo em pura cinza.
Remontavam às origens - a realidade
Neles se fez, de substância, imagem.
Dela a face era fria, a que o desejo
Como um hictus, houvesse adormecido
Dele apenas restava o eterno grito
Da espécie - tudo mais tinha morrido.
Caíam lentamente na voragem
Como duas estrelas que gravitam
Juntas para, depois, num grande abraço
Rolarem pelo espaço e se perderem
Transformadas no magma incandescente
Que milénios mais tarde explode em amor
E da matéria reproduz o tempo
Nas galáxias da vida no infinito.
Eles eram mais antigos que o silêncio...
Eles eram mais antigos que o silêncio
A perscrutar-se intimamente os sonhos
Tal como duas súbitas estátuas
Em que apenas o olhar restasse humano.
Qualquer toque, por certo, desfaria
Os seus corpos sem tempo em pura cinza.
Remontavam às origens - a realidade
Neles se fez, de substância, imagem.
Dela a face era fria, a que o desejo
Como um hictus, houvesse adormecido
Dele apenas restava o eterno grito
Da espécie - tudo mais tinha morrido.
Caíam lentamente na voragem
Como duas estrelas que gravitam
Juntas para, depois, num grande abraço
Rolarem pelo espaço e se perderem
Transformadas no magma incandescente
Que milénios mais tarde explode em amor
E da matéria reproduz o tempo
Nas galáxias da vida no infinito.
Eles eram mais antigos que o silêncio...
Vinicius de Moraes
http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/namorados-no-mirante
* Feito para uma fotografia de Luís Carlos Barreto.
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